27/01/2004

Episódio XV - Água

O dia tinha corrido mal: o trabalho acumulado...os deadlines impostos pelo chefe carrancudo e frustrado...as conversas monótonas, repetidas e amorfas das colegas...o almoço insípido...
Lígia quase agradeceu aos céus o facto de estar sozinha nessa noite. Aproveitaria para descansar, tomar um banho longo e relaxante, e dormir...muito.
Já em casa e com uma música suave de fundo (o som ambiente tinha sido uma boa opção...) dirigiu-se para o quarto onde preparou a roupa para o dia seguinte e entrou na casa de banho. Fechou a porta atrás de si e abriu a torneia da água quente. Despejou na banheira um frasco inteiro de sais. Entrou na água quentinha e perfumada como quem se prepara para nascer de novo. Encostou a cabeça e fechou os olhos...
Não se assustou quando ouviu a porta a abrir...Abriu os olhos por segundos e tornou a fechá-los..Ele sorria, quase enternecido, com a visão do quadro que estava perante si. Inclinou-se devagar e beijou-a na boca. O beijo demorou-se, os braços dela fecharam-se no pescoço dele. O desejo, como um rastilho, espalhou-se pelos corpos, tomando de assalto os sentidos todos. As roupas dele voaram num ápice. Foi a vez de ele se encostar. Inclinada sobre ele, beijou-o na boca, no pescoço, no peito. As mãos dela incontroláveis passeavam pelo corpo dele numa viagem vagarosa e perturbante. Um movimento do pé dele abriu a tampa do ralo da banheira. A água desaparecia e mostrava cada vez mais os contornos dos corpos molhados e plenos de vontade.
A boca dela percorria extasiada os caminhos que encontrava...e desceu marota e certeira até ao baixo ventre. Ecoou no ar um gemido surdo e ele pousou as mãos na cabeça dela. A boca, a língua, os lábios dela apoderaram-se do sexo dele com uma voracidade sensual, uma discreta mas sábia forma de manobrar, uma capacidade inegável de fazê-lo atingir o prazer máximo traduzido num murmúrio prolongado e num espasmo libertador e orgásmico...

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