29/01/2004

Episódio XVII - Perfeição

A luz das velas acesas em cada mesa, a música suave, o sussurrar das conversas, o jantar delicioso, o vinho feito néctar dos Deuses...Era a noite perfeita. Lígia sentia-se feliz por estar ali com ele, numa cumplicidade de amantes, a trocar segredos, a provarem a comida um do outro, a unirem as mãos de quando em vez como quem faz amor roçando apenas as pontas dos dedos.
Ele contemplava-a extasiado e bebia-lhe as palavras, o riso e a ternura do olhar.Juraria que a havia conhecido apenas naquela noite.À saída vestiu-lhe o casaco. Fê-lo lentamente, virados para um espelho junto à porta. Nesse gesto olhou a imagem reflectida à sua frente. Os dois. A imagem perfeita. Eram a metade um do outro...

Episódio XVI - Tempo

A paixão de Lígia vivia na naquela altura o auge. Os sonhos que acalentara com tanto fervor eram agora uma certeza materializada.Ele excedia-se em carinhos e atenções e ela, como sempre, era a mais dedicada e fogosa amante.
Com esforço fazia perdurar cada beijo, cada gesto, cada palavra e tudo adquiria outra forma de contagem: os minutos duravam horas e as horas duravam dias.
Ela guardaria no seu coração este segredo de saber como fazer parar o tempo....

27/01/2004

Episódio XV - Água

O dia tinha corrido mal: o trabalho acumulado...os deadlines impostos pelo chefe carrancudo e frustrado...as conversas monótonas, repetidas e amorfas das colegas...o almoço insípido...
Lígia quase agradeceu aos céus o facto de estar sozinha nessa noite. Aproveitaria para descansar, tomar um banho longo e relaxante, e dormir...muito.
Já em casa e com uma música suave de fundo (o som ambiente tinha sido uma boa opção...) dirigiu-se para o quarto onde preparou a roupa para o dia seguinte e entrou na casa de banho. Fechou a porta atrás de si e abriu a torneia da água quente. Despejou na banheira um frasco inteiro de sais. Entrou na água quentinha e perfumada como quem se prepara para nascer de novo. Encostou a cabeça e fechou os olhos...
Não se assustou quando ouviu a porta a abrir...Abriu os olhos por segundos e tornou a fechá-los..Ele sorria, quase enternecido, com a visão do quadro que estava perante si. Inclinou-se devagar e beijou-a na boca. O beijo demorou-se, os braços dela fecharam-se no pescoço dele. O desejo, como um rastilho, espalhou-se pelos corpos, tomando de assalto os sentidos todos. As roupas dele voaram num ápice. Foi a vez de ele se encostar. Inclinada sobre ele, beijou-o na boca, no pescoço, no peito. As mãos dela incontroláveis passeavam pelo corpo dele numa viagem vagarosa e perturbante. Um movimento do pé dele abriu a tampa do ralo da banheira. A água desaparecia e mostrava cada vez mais os contornos dos corpos molhados e plenos de vontade.
A boca dela percorria extasiada os caminhos que encontrava...e desceu marota e certeira até ao baixo ventre. Ecoou no ar um gemido surdo e ele pousou as mãos na cabeça dela. A boca, a língua, os lábios dela apoderaram-se do sexo dele com uma voracidade sensual, uma discreta mas sábia forma de manobrar, uma capacidade inegável de fazê-lo atingir o prazer máximo traduzido num murmúrio prolongado e num espasmo libertador e orgásmico...

21/01/2004

Episódio XIV - Toque

Os dedos dele percorriam devagar as pernas delas. As mãos abriam-se pouco a pouco, suavemente, à medida que subiam, acariciando cada curva, cada centímetro de pele. Enquanto o fazia falava com ela muito baixinho, quase imperceptível:
- Gosto muito de ti. De ti toda. Desejo-te, sonho contigo quando não estás ao pé de mim.Gosto de ti. Do teu corpo. Da forma pura como te entregas ao prazer. Gosto quando te ris.
Ela fechou os olhos e abandonou-se..mais uma vez...
A espaços, a boca dele mergulhava na barriga dela e deixava um rasto torturante de saliva mas sem nunca tocar o sexo. Quando as mãos fortes seguraram as ancas, puxou-a para ele e com a língua possuiu-a, sem pedir licença.Com um sentimento de posse absoluta e inequívoca sobre a mulher a quem naquele instante provocou um orgasmo como ela nunca tinha sentido...

20/01/2004

Episódio XIII - À medida

As mãos dele eram conchas...onde ela cabia, perfeita, e descansava sem sobressaltos...

Episódio XII - Excitação

Estavam ambos na sala. A televisão debitava notícias.Naquela noite ela havia cozinhado e agora bebiam o café calmamente como se fossem marido e mulher, embrenhados numa conversa banal e sem importância.
De súbito, ele pousou a chávena na mesinha e olhou minunciosamente para ela. Era tão embaraçoso aquele olhar e ao mesmo tempo tão excitante...Pediu-lhe que pousasse também ela a chávena e que se sentasse mais confortavelmente no sofá pequeno. Como sempre, Lígia fez o que ele pediu, sem protestar. Deixou cair o corpo reclinando-se.
Ele começou a falar devagar, com muitas pausas e muitas reticências usando um tom grave e convincente:
- Despe-te...sem olhares para o teu corpo...uma peça de cada vez....
- Fixa os meus olhos e a minha voz...não vejas nem ouças mais nada. Neste momento o mundo é aqui, nesta sala, eu e tu...
- Gosto do teu corpo, dos teus gestos tímidos, da tua insegurança...
- Acaricia-te...admira-te...excita-te...
Ela cumpria escrupulosamente as indicações dele. Sem protestos. Com prazer. Com um sorriso de lúxuria. Sentia-se viva, quente, o sexo húmido que pedia mais.
- Não te masturbes. Quero apenas que fiques nesse limbo...de querer mais...de desejar tudo...louca de vontade...Quero sonhar-te assim...

14/01/2004

Episódio XI - Sexo

O dedo indicador desceu pela espinha dorsal, incisivo, por cima da camisa branca, justa ao corpo.Ela estremeceu de vontade de se dar por inteiro. Ao mesmo tempo a boca dele procurou a dela e entreabertas uniram-se e as línguas tocaram-se...A mão dele, segura e certa na força que empregava, puxou-lhe uma madeixa de cabelo junto à nuca e assim ficou durante o beijo prolongado e quente.
Moveu as mãos na direcção do peito dela e desapertou-lhe a camisa. A cabeça desceu para junto do peito, perfeito e duro, cuja visão o inquietou, despertando-lhe ainda mais a vontade de a ter naquele instante. Libertou-a e libertou-se da roupa que impedia os movimentos desejados. Rodeou-a com um braço pela cintura, sussurrou-lhe ao ouvido: "...prometo que não te magoo.."e penetrou-a, fundo, de uma só vez...

09/01/2004

Episódio X - Para sempre

A manhã clareava, cinzenta e fria e, no entanto, tão clara e magnífica. Pegou numa folha feita de ar e escreveu com uma tinta invísivel:

..."Fechei os olhos e estou agora voltada para dentro de nós. Não quero tornar a abri-los. Ficarei assim para sempre...O amor que sinto por ti é tão absurdamente imenso que se torna impronunciácel. És o meu céu...."

07/01/2004

Episódio IX - Desespero

O copo de gin quente, intocado, pousado e esquecido na beira da mesa. Um cigarro a meio, sorvido longamente e de uma maneira nervosa. As palavras duras, gritadas da porta e tão violentas que doíam ainda no corpo dela:"...SINTO QUE POUCO A POUCO ME ROUBAS A ALMA, ENTENDES? E NÃO QUERO QUE ISSO ACONTEÇA!"

... Ele tinha enlouquecido...decerto...

Tinham feito amor ao fim da tarde. Um amor calmo e com vagar como são os fins de tarde no Verão. Uma doçura quente feita carícias e prazer. Tinham dado as mãos enquanto trocavam sonhos. Tinham explorado recantos nos corpos com risos cúmplices. Foi um amor como nunca havia sido antes. Arrebatador. Dir-se-ia... perfeito.

Chorou toda a noite sem saber se voltaria a vê-lo...