29/12/2003

Episódio VIII - Calafrio

O olhar dele, quente e sedutor, despertava nela desejos incontroláveis. Antecipava em pensamentos irrequietos os minutos da posse..orgasmos mentais impossíveis de descodificar. O mundo parava e a mente corria veloz contrariando o movimento do universo. Avançava para ele com um sorriso, as mãos colavam-se ao pescoço e a boca na boca dele: "...dá-me tudo..."
Nele bebia a juventude, a força, a forma de estar e de comunicar. Conseguiria ficar assim, eternamente, a roubar-lhe a alma.
E depois...o toque macio dos lábios, a doçura da língua, o respirar quente, a pujança do sexo que sentia com um roçar da mão..fugaz e leve...

26/12/2003

Episódio VII - Felicidade

O tempo corria lento e levava na margem dos dias nunca iguais a clara verdade da felicidade que a inundava. Sobrepunha-se essa verdade a tudo o que demais existia no mundo. Cantarolava e ria sem motivo. Abria a janela do quarto e soltava ao vento um grito mudo de amor e contentamento.Depois rodava devagar a cabeça e os olhos preenchiam-se de uma água límpida e transparente quando contemplava o corpo dele adormecido na cama revolta. Era com um beijo profundo e molhado que o despertava num ritual lento e compassado. Iluminados pela luz firme e brilhante do sol a romper da janela aberta davam-se um ao outro mais uma vez...que era sempre a primeira vez...

11/12/2003

Episódio VI - Ciúme

Cerrou os lábios. As perguntas bailavam, inquietantes, na cabeça, ameaçando tornar-se voz a qualquer momento. Tinha dificuldade em controlar o ciúme."Onde estiveste?" "Com quem estiveste?" "Pensaste em mim?" Sabia que não deveria e calava o interrogatório. Ele, como a conhecesse bem, abraçava-a e fazia-lhe declarações de paixão, olhos nos olhos, alma na alma...e ela amanhecia no corpo dele...

09/12/2003

Episódio V - Surpreender

Fixava a atenção em pormenores sem importância aparente. Gostava de não prever os gestos e os carinhos. Sentia um deleite juvenil nas surpresas que muitas vezes lhe fazia. Como naquela manhã chuvosa e fria...Seguia no táxi, numa viagem morosa e fatigante no trânsito caótico da cidade. Ele, inesperadamente, ligou-lhe. Atendeu nervosa, não sem antes engolir em seco, como sempre acontecia quando lhe falava ao telefone. Com um tom claro e imperativo pediu-lhe que se masturbasse, ali, no táxi, a pensar nele.

...os espasmos do orgasmo vibrante que sentiu duraram todo o dia...

04/12/2003

Episódio IV - Olhar

Gostava de se arranjar para ele. Demorava na escolha da roupa, da lingerie... Realçava o corpo e procurava o melhor dela na imagem que produzia.Gostava do olhar dele quando se encontravam. Um olhar que valia tudo..guloso...lascivo...
Sentir-se desejada por aquele homem.Só isso contava. Era a mulher mais bonita do mundo nesses momentos e seria capaz de mover a montanha mais alta para ter sempre aquele olhar..assim...preso a si.

Episódio III - Ausência

Houve uma época em que desapareceu da vida dela durante três longas semanas. A dor que Ligía sentia ameaçava tornar-se o centro fulcral da existência. Era uma dor maior que o mundo e tinha tons de cinzento e contornos de tempestade. Por minutos breves a esperança desvanecia-se na poeira do tempo e ela deixava de viver. Acordava do torpor com uma réstea de sol a aquecer-lhe a alma. Esperaria.

03/12/2003

Episódio II - Apetecer

Ele telefonou-lhe já tarde. Ela atendeu com a voz trémula:
..."És tu...já não esperava ouvir-te hoje...Amo-te, sabias?"
Ele, com as costumadas pausas com as quais teimava em endoidecê-la, tardou em fazer-se ouvir:
..."Vem ter comigo agora...Apeteces-me"...
E ela foi.

Episódio I - Amar

A fé e a loucura com que se entregava a cada nova paixão deixavam-na sem capacidade de racionalizar. Entregava-se incondicionalmente ao amante como quem quisesse sorver a vida toda nos minutos breves do prazer.Depois chorava muito.Dizia a ela própria que da próxima vez não seria assim mas tudo se repetia como um filme antigo do qual já conhecia o fim de cor de salteado.Chamava-se Ligía e tinha 28 anos.