20/09/2004

Episódio X do 2º Livro

No fundo, Lígia sabia amar mas não sabia ser amada. Lígia sabia dar mas não sabia receber. Ligia renegava o direito de ser feliz. Nunca lhe parecia justo usufruir desse direito. E acreditava fervorosamente que era este o seu fado, o seu destino.

E numa noite mágica aconteceu: experimentou uma felicidade sem nome, algo tão forte que ultrapassou os limites da normalidade, uma comunhão de corpos e almas que se fixou no espaço intemporal.

Não sabia lidar com tanto...não conseguia sobreviver...Interagia melhor com a dor intensa e profunda do que com a felicidade e a dávida...

E no instante em que lhe disse que não o queria mais sabia que o que perdia com essa sua decisão não se limitava ao amor: desperdiçava com essa atitude a sua segurança, o seu equílibrio, o seu porto de abrigo, quebrava as amarras com o cais onde descansava sem qualquer sobressalto.

Umas semanas depois a saudade era o fardo mais pesado do mundo e a lembrança dos momentos partilhados era o botão para um choro copioso e uma noite em branco. Lígia prendia a alma em desespero ao que entendia como a verdade maior do Universo: ela não tinha vindo ao Mundo para ser feliz mas sim para fazer os outros felizes e este era o único consolo que a mantinha enquanto os braços enrolados à volta dos joelhos marcavam o balanço do corpo...ininterruptamente.